Manuel Fernandes

Nota Biográfica

O pintor dourador Manuel Fernandes terá nascido por volta do ano de 1579, segundo declaração sua num processo do Santo Ofício de Évora de 1609 onde o pintor afirma ter a idade de 30 anos, pouco mais ou menos.
Casou com Sebastiana Varela a 15 de agosto de 1599 e na igreja de Santo Antão de Évora, batizaram 11 filhos.
Era pintor na modalidade de óleo, dourado e estofado. Tinha oficina na rua Ancha em Évora, onde recebeu como aprendiz Pedro Nunes que vira a ser seu genro e um pintor importante da Contra-Maneira. Da união de Pedro Nunes com Mariana Varela nasceram 8 filhos entre os quais os pintores Francisco Nunes Varela, Maria Josefa dos Anjos, e Lourenço Nunes Varela. A sua filha Úrsula Varela casou com o pintor Francisco Botado e viria a ser mãe do pintor e padre, Manuel Botado. Seu filho e homónimo Manuel Fernandes, seguiu também o ofício de seu pai.
O artista foi irmão de segunda condição da Santa Casa da Misericórdia o que lhe conferia um certo prestígio social. Foi um pintor especialmente produtivo, a julgar pelo número de obras atribuídas. Trabalhou para a Inquisição tendo realizado um considerável número de obras para esta instituição.
O processo de habilitação 'De genere' de seu filho, padre António Moreno, veio lançar alguma luz sobre o valor do dinheiro à época. No documento consta que a quantia de 200 mil reis era um bom ordenado anual. De fato, este pintor conseguiu sustentar uma família de onze filhos e fazer dote umas casas na rua Ancha, uma das principais artérias de comércio em Évora.
Em 24 de outubro de 1560, o pintor surge entre as testemunhas de um contrato de emprazamento, e em 1604 de um arrendamento.
A 1 de dezembro de 1605 o físico licenciado António da Costa arrendou umas casas sitas na mesma Rua Ancha ao pintor Manuel Fernandes e sua mulher Sebastiana Varela, com o foro de 2.500 réis por Natal; nesse mesmo mês e dia, em instrumento de confissão de dívida, o pintor obrigou-se a pagar até Fevereiro, ao Licenciado António da Costa, 19.500 réis que este lhe havia emprestado.
Em outubro de 1609, o pintor Manuel Fernandes, então com a « idade de trinta annos pouco mais ou menos», aparece perante o Tribunal do Santo Ofício de Évora, presidido pelo Inquisidor Miguel Ferreira, e denuncia António de Moura, pintor da cidade de Lisboa, devido a factos ocorridos no mês de Julho, quando ambos trabalhavam na sua oficina na Rua Ancha. O pintor lisboeta, que disse ser filho do ourives Veríssimo de Moura, e cristão-novo por parte de sua mãe, ter-lhe-ia dito por três vezes a palavra «Adonai», com a qual pretendia sarar dores de dentes e outras maleitas, como de resto sucedeu com o denunciante, e com sua mulher Sebastianan Varela.
A 11 de maio de 1610, por contrato de obrigação celebrado entre os mordomos da Irmandade do Menino Jesus, sita no convento de Santa Mónica, e o pintor Manuel Fernandes, este comprometeu-se a dourar e estofar o retábulo da capela da Irmandade, por preço de 50.000 rs.
Em 1656 A tumba da Santa Casa da Misericórdia enterrou o pintor Manuel Fernandes

Palavras-chave

Inquisição; Dourador; Pintor a óleo.

Estudos

Serrão, V. (1998). Francisco Nunes Varela e as oficinas de pintura em Évora no século XVII, A Cidade de Évora: Boletim de Cultura da Câmara Municipal (2ª Série), nº 3, p.104

Espanca, T. (1947). Notas Sobre Pintores em Évora nos Séculos XVI e XVII. A Cidade de Évora. Évora: Câmara Municipal de Évora. Ano V, nº 13-14 (1947), pág.136

Serrão, Vítor. (1983). O Maneirismo e o Estatuto social dos Pintores Portugueses, Lisboa, pp.350-351.

Fontes

BPE, Convento do Espinheiro, Livro nº 1, fl. 493 - 495. Publicado pelo Professor Vitor Serrão.

ADE, Cartório Paroquial, Lº.37, Matrimónios de S. Antão Cx.14, fl. 46vº.

ADE, Cartório Notarial. Lº331,fls.66 a 67Vº

ADE, Cartório Notarial, Lº 33, fls. 90 a 90 vº

ADE, Cartório Notarial, Lº 380, fls. 13 vº a 17

ADE, Cartório Notarial, L.º 380, fls. 22 vº a 23

ADE, Cartório Notarial, Lº 455, fls. 35 a 37

ADE, Cartório Notarial, Lº 391, fls. 91 a 92

ADE, Cartório Notarial, Lº 391, fls. 20 a 21

ADE, Cartório Notarial, Lº 402, fls. 71 vº a 73.

ADE, Câmara de Évora, fl. 39

ADE, Cartório Notarial, Lº 407, fls. 84 vº a 85 vº. Documento revelado pelo Professor Vítor Serrão

ADE, Cartório Notarial, Lº 409,fl.97 vº. Documento revelado pelo Professor Vítor Serrão

ADE, Cartório Notarial, Lº420,fsl.94 vº a 95vº.Documento revelado pelo Professor Vítor Serrão

ADE, Cartório Notarial,Lº421,fls.28 a 29vº. Documento revelado pelo Professor Vítor Serrão

ADE, Cartório Notarial, Lº 571, fls. 26 a 29

ADE, Livro dos Defuntos da Misericórdia (1630-39), fl. 114 v.

ADE, Livro dos Defuntos da Misericórdia (1639-50), fl. 139.

ADE, Livro do Defuntos da Misericórdia (1650-63), fl. 125.

ADE, Cartório Paroquial, Lº 4 de Batizados de S. Antão. fl.395vº

ADE, Cartório Paroquial. Lº 5 de Batizados de S. Antão

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ADE, Cartório Paroquial, Lº 5, de Batizados de S. Antão.

ADE, Cartório Paroquial, Lº5, de Batizados S. Antão

ADE, Cartório Paroquial Lº 7 de Batizados de S. Antão

ADE, Cartório Paroquial Lº 7 de Batizados de S. Antão

ADE, Cartório Paroquial Lº 7 de Batizados de S. Antão